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A Arquitetura de Madureira | Diário de um Quase-Arquiteto

O estudo de arquitetura no Rio de Janeiro aborda incessantemente os símbolos arquitetônicos que surgiram na zona central e na zona sul, havendo pouca ou nenhuma menção do que foi e é construído na zona norte. Quando isso acontece, entretanto, cai-se na mesmice: Tijuca, Maracanã, Vila Isabel e São Cristovão, os bairros que surgiram da "fuga" de parte da nobreza do centro conturbado na época imperial. Pensei então em buscar o que há de histórico-arquitetônico fora desses limites, começando por meu bairro, Madureira.

Breve Descrição

Madureira é o símbolo do subúrbio carioca, possui o segundo maior polo comercial da cidade e é um ponto de grande circulação de pessoas, não só por causa do comércio, mas por concentrar muitas linhas de ônibus municipais e intermunicipais, duas linhas de trem, linha de BRT e locais de cultura e lazer. 

Diz-se que o interior do Rio de Janeiro, no início do século XIX começou a ser povoado na região do bairro, de onde surgiram muitos bairros como Irajá, Campinho e Oswaldo Cruz, nas adjacências. Além disso Madureira é onde o samba toma grandes proporções, concentra as escolas de samba Portela e Império Serrano, e chega a ser cantada em músicas desse ritmo. A herança afro encontrou o seu lugar.

Mercadão de Madureira, Baile Charme, Parque Madureira, etc. Não há como negar que Madureira não seja um polo de cultura e lazer.

Construções Neocoloniais

Endereço: Rua Sanatório

Madureira possui em qualquer canto uma casa ou conjunto residencial construído seguindo o "movimento" neocolonial. Essa nova perspectiva de construção surgiu de uma necessidade de gerar uma arquitetura nacional em meio ao incessante gosto eclético que tomava a cidade. No bairro é possível encontrar mais exemplos do neocolonial hispano-americano. 


Igreja do Santo Sepulcro

Ano de Construção: 1945
Endereço: Rua Sanatório

Igreja tombada atualmente, surgiu de uma comemoração dos 25 anos do Arcebispo Dom Jaime de Barros. Como foi inspirada na Basílica do Santo Sepulcro de Jerusalém (Arquitetura Românica), a Igreja seria um resquício do movimento Neorromânico, porém com elementos franciscanos, como afrescos e vitrais. A sua torre, no centro da fachada, é vista de vários pontos de Madureira e Cascadura.


Paróquia de São Brás

Ano de Construção: 1958
Endereço: Rua Andrade Figueira

Mesmo após a "abolição" dos estilos históricos, ficou difícil encontrar igrejas que não seguissem pelo menos abstratamente elementos que remetiam a arquitetura de igrejas antigas. O que chama atenção nessa paróquia é justamente o contrário. Apesar de ser mais um trabalho de fachada do que um estudo volumétrico, a construção se destaca pelo jogo geométrico de sobreposição de um triângulo em um retângulo e as aberturas feitas no centro do triângulo. O desenho feito produz um efeito de um grande portal triangular.



Paróquia de São Luiz Gonzaga

Ano de Construção: 1915
Endereço: Rua Manuel Martins

A paróquia tem um aspecto monumental e pesado. De frente para a rua São Geraldo, a igreja se torna ponto culminante de um eixo, os olhos são atraídos diretamente a ela. A sua volumetria, uma associação de blocos, com pouca ornamentação e janelas que parecem quase frestas na fachada induzem a sensação de peso, em contraposição à cruz-vitral no corpo central da igreja. O portal aparentemente de pedra é semelhante às Igrejas Românicas.


Catedral da Assembléia de Deus
Ano de Construção: 1953
Endereço: Rua Carolina Machado

Construída com inspiração gótica, a Igreja da Assembleia de Deus foi projetada e levantada como a primeira Catedral do segmento religioso cristão na América Latina. Um projeto ousado, pois sabe-se que o Gótico/Neogótico é o movimento arquitetônico emblemático para as Catedrais e Igrejas Católicas no ocidente, principalmente na Europa. Porém a igreja de Madureira é mais sóbria, não exagera nos elementos e não é composta de telhados pontiagudos, porém os ângulos agudos são apresentados nos arcos das aberturas. É visto também que possui um embasamento rusticado.




Primeira Igreja Batista de Madureira (Nova Sede)

Endereço: Praça do Patriarca

Não consegui achar o ano de construção da igreja, é a nova sede da Primeira Igreja Batista de Madureira. A primeira sede está na Rua Domingos Lopes. Volumetricamente é uma construção óbvia, volume único, porém sua riqueza está nos detalhes de fachada. Os brises remetem panos leves que, combinados com as paredes brancas e janelões azulados, causam efeito de leveza, de céu. Sem dúvida o seu exterior é a sensação que se deseja ter quanto está em seu interior. Outro ponto importante é o pórtico na lateral da igreja, sendo seu destaque de esquina e relacionando a figura com as torres das antigas igrejas.

Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (Igreja Mórmon) de Madureira

Endereço: Rua Curimatá

Outro registro do que há de novo por Madureira, a Igreja Mórmon se camufla na rua residencial com seu pé-direito a nível de uma casa comum. Uma construção austera, sem decoração e exageros, que encanta por sua simplicidade, telhados de madeira com grandes águas e um pórtico que, talvez, seja o único elemento que nos mostre que a construção é um templo religioso.

Igreja União Evangélica Pentecostal 

Endereço: Praça Inácio Canto

Em frente a praça, a igreja impõe-se, não há outra construção que brigue pela atenção do observador. Sua fachada é uma associação de volumes, rasgados por janelas de vitrais que fazem releitura dos arcos quebrados góticos. Seu embasamento é, por outro lado, formado por arcos ogivais. As paredes, rosas, são limpas e valorizam suas janelas, os volumes possuem uma leve angulação que nos lembra, mais uma vez, o desenho de igrejas históricas.



SESC Madureira

Projeto de Índio da Costa, com parceria de Eduardo Paez e Hans Butter
Ano de Construção: 1980
Endereço: Rua Ewbank da Câmara

Já estou familiarizado com os traços de Índio da Costa, mas não custa dizer que o SESC Madureira é, pra mim, o elemento arquitetônico que representa o bairro. Infelizmente a fachada é pouco visível por causa da vegetação, mas é possível dizer que a materialidade aparente é explorada, no exterior e no interior. O concreto é a alma desse lugar, porém diversos materiais convivem harmonicamente em seu interior. A estrutura é independente e bruta, pilares retangulares que são ainda mais valorizados quando serpenteados por escadas flutuantes com seus guardo-corpos de placas de metal. As luminárias são esferas de vidro espalhadas pela edificação, que é aberta e fechada ao mesmo tempo. Pra conhecer melhor esse elemento da Arquitetura Moderna só visitando-o.

Escola SENAC

Projeto de Felisberto José Bulhões de Carvalho
Ano de Construção: 1965
Endereço: Rua Ewbank da Câmara

Símbolo da Arquitetura Moderna carioca, mais antigo que o SESC, possui características dos conceitos pregados pelo movimento brutalista. A estrutura é de concreto e o fechamento é alvenaria, ambos aparentes na sua volumetria. O corpo do edifício não é um volume único, o eixo dele se encontra num volume distante e mais alto que o resto da composição. Suas janelas não são meras aberturas, a partir delas saltam das fachadas balcões ou varandas. Atualmente o valor da materialidade aparente encontra-se fraquejado com as cores que foram posteriormente aplicadas.



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