Nota: Desculpem-me pela demora, muitas coisas me atrapalharam e eu acabei não conseguindo postar. Enfim, esse post é dedicado à Joana, por ter esperado tanto.
Como uma história pode trazer reflexões sem ser chata
O filme de hoje é o tema secundário do post. Eu quero mesmo falar dessa que é uma das melhores histórias que eu já vi e li. Carrie, a estranha - no original, apenas Carrie - conta a história de Carrie White, garota criada sob a mão pesada de uma mãe perturbada e cegamente devota à religião, que é humilhada e zombada por seus colegas de escola e em meio a vários acontecimentos percebe que possui o dom da telecinese.
O livro é de 1970 e é escrito por Stephen King, mestre das narrativas sombrias e sobrenaturais. Um fato interessante é que, após terminar o livro, Stephen jogou tudo no lixo achando que tinha escrito uma porcaria, mas sua mulher, Tabitha, ao encontrar os papeis, leu, adorou e, percebendo o potencial da história, o convenceu a publicar o livro. Muitíssimos anos depois, ficou claro que ela estava certa, pois Carrie foi o primeiro grande sucesso de Stephen, sendo muito lucrativo e rendendo adaptações para o cinema e até um musical para a Broadway.
O livro é incrível, a escrita de Stephen é pontual, misturando o desenrolar da história com reportagens fictícias sobre o dom da protagonista e nos introjetando no universo da história ao traçar perfis críveis dos personagens e ao nos brindar com a cena antológica do baile, simplesmente a apoteose da trama.
O filme de 1976, adaptado por Brian De Palma, é belíssimo. O trabalho com os efeitos especiais e a sonoplastia podem parecer toscos para a nossa geração, mas dentro daquele contexto o resultado é excelente. O filme assombra, atormenta, e ainda comove. Não há como não torcer por Carrie e desejar que ela...
John Travolta se desempenha muito bem nesta que foi sua primeira grande participação no cinema. Sissy Spacek como Carrie é perfeita, sendo extremamente frágil em alguns momentos e a personificação da fúria em outros. A mãe de Carrie interpretada por Piper Laurie é, depois da protagonista, a personagem mais intrigante e rica.
“They´re all gonna laugh at you” é, para mim, a frase mais significativa de toda a sequência. Dita primeiramente pela mãe de Carrie momentos antes da filha ir ao baile, a frase já causa uma dor pela crueza. Mas é quando, no baile, a frase vem novamente, que ela ganha uma proporção mais significativa. Mixada em uma frequência psicodélica aliada à imagem de todos as pessoas rindo de Carrie, a cena se torna maravilhosamente assombrosa e prende o público à tela.
Mas o principal trunfo do sucesso de toda e qualquer adaptação que foi feita e ainda será feita de Carrie é o seu tema. Bullying, à época de lançamento do livro era um assunto pouco tratado e até mesmo desconhecido por grande parte da população mundial, tanto que somente há alguns anos que o tema veio à tona de fato para o mundo – no Brasil, só é o assunto do momento graças ao episódio em Realengo. Daí a significância da obra de Stephen King, ao abordar de maneira agressiva e direta um tema intocado - que todo mundo já vivenciou ou presenciou –, Stephen ilustra quão extremas podem ser as consequências do Bullying sem precisar se calcar em estudos sociológicos acadêmicos – que aborreceriam o público -, mas se utilizando da alegoria do sobrenatural para atrair um público mais vasto e apresentá-lo um quadro entristecido e sangrento de uma realidade social pertinente à sociedade daquela época e infelizmente ainda tão relacionada à nossa geração.
Nunca dei notas aqui, mas Carrie, pelo apreço intenso que tenho por seu tema e como ele é desenvolvido, merece 10 estrelas.
Por: Fernando Ananias
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